Era tarde. A estação estava quase vazia, exceto por ela, parada na beira da plataforma, olhando para o relógio como quem espera mais que um simples horário: esperava uma chance.
Ele apareceu do outro lado, com aquele jeito de quem carrega o peso de meses sem ver, mas também a leveza de quem ainda acredita que vale a pena. Caminhou devagar, e cada passo parecia empurrar de volta o tempo que eles perderam.
— Achei que não vinha — ela disse, com a voz firme, mas os olhos tremiam.
— Achei que não me esperaria — ele respondeu, como quem confessa um medo antigo.
Por alguns segundos, ficaram só se olhando. Não havia nada a dizer que o silêncio não dissesse melhor. E foi no exato momento em que o trem se aproximava, soltando aquele suspiro de ferro e fumaça, que ele segurou a mão dela.
— Se for pra partir, que seja comigo — disse ele.
— Então que seja agora — respondeu ela.
Entraram juntos. O trem seguiu, cortando a noite. Lá dentro, não havia planos, só a certeza de que o próximo destino não importava — desde que estivessem no mesmo banco.
E, pela primeira vez em muito tempo, os dois respiraram como quem enfim chegou em casa.